
Sentiram as palavras àsperas como chicotes:
_ Porque é que entraram só agora? Brincamos?
A cana bateu com força na cabeça do Zé. Todos se encolheram e no profundo silêncio, nada mexia, ninguém respirava. A qualquer momento a cana da professora podia cair sobre a cabeça de alguém, por isso o melhor era encolher os ombros, baixar os olhos e não chamar a atenção.
As reduções foram feitas em minutos, quase ao mesmo a tempo que a professora as passava no quadro. Os bocadinhos da lousa eram perfeitos para fazer as contas, se as contas não estavam certas, um pouco de cuspo na mão e rapidamente se emendava o resultado, uma olhadela para o lado, para confirmar e já estava, podiam finalmente suspirar de alivio. O barulho do lápis a escrevinhar era o único som que se ouvia, todo o resto era silencio.
O disfarce era a melhor defesa, o lápis cantava baixinho, não fosse a professora ouvir. Qualquer chiadeira era sinal de alarme e motivo para ser chamado ao quadro. E aquele mostro preto, que parecia que engolia as letras e os números que eram lá rabiscados , assistiu vezes sem conta ao pavor, ao puro terror de quem se via de frente a esta imensidão preta e tinha que resolver os problemas.
1 comentário:
Bem a coisa está a ficar intensa!...
Intensa com a grandeza da recordações que nos alimentam o presente, mas que têm a marca de outros tempos. Tempos do tempo de "pequeno" que criou e alimenta o presente.
Estou a gostar.
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